Patriotismo expatriado

Amanhã é dia de St Andrews, uma data em que tradicionalmente se celebra vários aspectos da cultura escocesa. Em função disso, ontem à noite, os escoteiros jogaram golfe, comeram quitutes escoceses e praticaram cantar o hino informal da Escócia “Flower of Scotland”.

Então, esta manhã, o Pedro ainda estava no clima nacionalista escocês, cantando o hino, bem contente. Peguei o celular pra colocar o vídeo e ele poder conferir se a letra estava toda certa:

Cantamos juntos algumas vezes, e aí resolvi tocar o hino do Brasil pra ele. Contei que, quando era criança, muitas vezes cantava o hino na escola, antes das aulas, com a mão no peito, olhando pra bandeira e toda aquela coisa. Ele achou graça. Eu lembro de nem dar bola.

Adoro história do Brasil e acho que temos inúmeros motivos para nos congratular como nação, mas nunca me considerei uma patriota, naquele sentido ufanista da coisa. O sentimento de total pertencimento a uma nação é algo que inexiste em mim. Como cientista política, acredito que orgulhos nacionais podem ser perigosos, então eu prefiro cultivar a crença de que, embora fronteiras sejam necessárias, somos todos cidadãos do mundo, e nenhuma nação deve ter a pretensão de se julgar superior à outra.

Entretanto, meus amigos, quando esse hino abaixo começou a tocar, a impatriota aqui, a expatriada, aquela que correu do Brasil várias vezes durante a vida, sentiu a garganta embolar e percebeu uma umidade estranha querendo brotar dos olhos….

Acho que quem está fora do Brasil vai conseguir entender melhor esse sentimento. Me bateu uma coisa que não sei explicar, lembranças não só do hino da escola, mas de tantas outras coisas…. aquela energia de luta, de vitória, de esperança…. Reparem como nosso hino é imensamente lindo!

O da Escócia é bonito, claro, mas tem essa melodia mais triste, evoca na letra batalhas distantes, sofrimento…. Já o nosso não tem nem uma nota sequer de tristeza, é pura esperança, pura apreciação de quem somos e do que temos. E isso é muito, muito bonito, e me fez pensar em uma infinidade de coisas a respeito do Brasil e dos brasileiros.

A letra ainda é muito complicada pro entendimento do Pedro, mas fui explicando algumas coisas. Expliquei que o Brasil era de Portugal há muito tempo atrás (“I know!!”, ele me disse, meio enfadado), e que aí um dia os brasileiros cansaram e gritaram “Freedooom!!!” e deram um chute na bunda de Portugal (ele riu). Me dei conta que, estando no exterior, vai caber a mim ensinar História do Brasil pra ele, função que abraçarei com imenso prazer. Quero que ele saiba o quanto o Brasil é um país interessante, único, com seus zilhões de problemas, claro, mas com um território incrível, com um potencial absurdo, e com pessoas admiráveis. Quero que ele saiba o suficiente pra entender que o nome dele é uma homenagem justa a D. Pedro II. E que muitos outros Pedros vieram depois, fazendo história também.

Contei que o Brasil tem vários hinos: o da bandeira, da independência, da república. Cantei um trechinho de cada um deles, me dando conta que ainda sei todos. E adoro todos!!! E todos fazem meu coração apertar. Que tipo de impatriota eu sou, afinal?!! Acho que sou do tipo que até pode correr, mas nunca vai sacudir a poeira do sapato. Pelo contrário, a vontade é mais de guardar um saquinho de terra brasileira, como D. Pedro II fez, pra não esquecer nunca de onde se veio.

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  1. June

    Lindo texto, linda reflexão!

  2. Lucia Dourado

    Nossaaaaaaa que texto lindo! Até chorei… Parabéns, que escrita sentimental, orgânica.
    Meu sonho é conhecer a Escócia (One day…), faço isso um pouquinho através de seu blog e IG.
    Que volte os tempos de patriotismo brasileiro e o orgulho de tudo que conquistamos ao longo da árdua caminhada.
    Até mais.

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