Lochleven Castle: a “prisão entediante” da rainha Mary

Junho de 1567. Aos 24 anos de idade, a rainha da Escócia, Mary Stuart, também conhecida como Mary, Queen of Scots,é colocada em um barco e levada como prisioneira até um castelo isolado em uma ilha do Loch Leven. Ela já havia estado ali antes mas como convidada de honra. Desta vez, o lorde do castelo, Sir William Douglas, estava menos amigável.

Católica, em um país que rapidamente se tornava protestante, Mary não havia conseguido conquistar a lealdade dos nobres protestantes. Uma série de desventuras históricas e pessoais fez com que seu próprio meio-irmão a capturasse e a entregasse para os seus inimigos. Para piorar as coisas, Mary estava grávida, e deixou pra trás seu filhinho James, de cerca de um ano de idade.

Ilha com o castelo, no Loch Leven, atualmente.
As colinas atrás formam um “gigante adormecido”.

O Castelo de Loch Leven pertencia à família do Sir William Douglas. A mãe dele, Margaret, havia sido amante do rei James V, pai de Mary, com teve um filho. Apesar de ilegítimo, ela acreditava que este filho deveria ter direito ao trono, e por isso cultivava um ódio profundo por Mary, a verdadeira herdeira do trono. Eu imagino o sorriso satisfeito desssa mulher, quando viu o barco com a prisioneira real se aproximar do castelo. Junto com outras mulheres da família, Margaret ficou encarregada de fazer companhia à Mary, mais para vigiar do que para ajudar.

O objetivo da prisão era fazer com que a rainha renunciasse ao trono em nome de seu filho pequeno, que havia sido tirado dela e seria criado como protestante. Mary resistiu, e ficou trancada em uma torre menor do castelo, a Glassin Tower, sem direito a qualquer comunicação com o mundo exterior. Cerca de um mês após sua chegada, ela sofreu um aborto dos gêmeos que esperava. Os bebês foram enterrados em algum lugar na ilha.

Glassin Tower, primeira prisão de Mary no castelo.

Ainda acamada, muito fraca e se recuperando, foi forçada a assinar os papéis de sua abdicação. Depois, passou a dormir em um quarto maior, na torre principal do castelo, onde seguia sendo vigiada de perto pela família e proibida de se comunicar com qualquer pessoa de fora.

Torre principal. O quarto de Mary ficava no 4º andar, acima do quarto de Sir William.

Mary foi ficando mais forte e, às vezes, até fazia caminhadas pela pequena ilha.

A ilha, como era no século XVI.

Boa parte dos dias dias, porém, eram passados no quarto, rezando em seu pequeno oratório, ou acompanhando a vida no castelo e apelando para o lado bom de Sir William, tentando convencê-lo a libertá-la.

Janela do quarto de Mary, com oratório à direita.

Carismática e dona de uma magnetismo pessoal incrível, Mary foi, aos poucos, conquistando a simpatia de pessoas no castelo. O irmão mais novo de Sir William, George Douglas, com 18 anos de idade na época, foi um dos que se viu especialmente tocado pela situação da jovem rainha. Ele e Willie, um garoto órfão de 16 anos que morava na ilha desde que nasceu, passaram a ajudá-la, levando suas cartas de barco até o outro lado do lago.

Em uma dessas cartas, endereçada à Rainha Elizabeth I, para quem Mary pediu constante ajuda, ela descreveu o Castelo de Loch Leven como uma “prisão entediante”. Mary também escreveu, pedindo ajuda, para a ex-sogra Catarina de Médici.

Embora ambas ignorassem seus apelos, Willie e George traziam à ilha cartas de lordes fiéis à rainha. Confiantes, começaram a arquitetar um plano de fuga para ela. Não era fácil fugir do Castelo de Loch Leven. Qualquer um que tentasse remar para fora da ilha era percebido em minutos pelos vigias. Ainda que ela conseguisse chegar até o outro lado sem ser perseguida, precisaria de cavalos e mantimentos para continuar a fuga até algum castelo de aliados. Sir William percebeu uma certa conspiração no ar e decidiu banir George da ilha. Antes que ele partisse, Mary deu a ele um brinco de pérola, que ele deveria enviar de volta para ela quando tudo estivesse pronto para a fuga. Willie continuou levando cartas e messagens através do lago, sem ser percebido.

No final do inverno, em março, quando o tempo estava melhor, George arquitetou sua ideia: Mary se vestiria como uma das lavadeiras que diariamente vinham à ilha e escaparia no barco de volta. Dias depois, Mary estava no barco, se dirigindo à costa, disfarçada e segurando com força seu lenço sobre o rosto, para evitar ser reconhecida. Mas o barqueiro estranhou aquelas mãos delicadas, de longos dedos finos e muito brancos. Descoberta, ela foi levada de volta à ilha. Sir William ficou furioso por quase ter perdido sua prisioneira e, desta vez, baniu Willie também.

Capa de um livro sobre o episódio, retratando o momento em que o barqueiro descobre que a lavadeira é, na verdade, a rainha fugitiva.

Passadas algumas semanas, George enviou uma carta à família dizendo que iria embora para a França e que, por isso, Willie ficaria sozinho na costa. Sir William gostava do adolescente, a quem tratava como um filho, e autorizou então que o garoto voltasse à ilha, sob a condição de não ajudar mais a prisioneira.

Um dia antes das celebrações de maio no castelo, um barqueiro chegou à ilha trazendo o brinco de pérola de Mary e dizendo que, antes de partir para a França, George pediu que ele entregasse o brinco à uma das damas da rainha. Ela soube que este era o sinal que haviam combinado. Durante o banquete, à noite, o lorde e seus convidados beberam mais do que de costume. Willie incentivou, enchendo os copos de todos constantemente e organizando brincadeiras que envolviam bebida. Mary alegou estar cansada e subiu para o seu quarto, onde uma criada trocou de roupas com ela. Enquanto Mary se vestia, Willie silenciosamente prendeu com estacas e pregos todos os barcos, menos um. Depois, voltou ao castelo, ao salão onde todos ainda comiam, bebiam, riam e cantavam. Willie se enturmou, cantou alto um poema engraçado e propôs uma brincadeira de blefe com olhos fechados. As chaves do castelo estava em cima da mesa, perto de um embriagado Sir William, e Willie aproveitou a brincadeira para pegá-las, jogando um lenço por cima delas. Minutos depois, ele usou-as para trancar o portão do castelo por fora, enquanto Mary e a criada corriam para o barco. Do outro lado do lago, George esperava por eles.

A rainha finalmente escapou, depois de 11 meses na ilha de Loch Leven. Livre, declarou que sua abdicação havia sido assinada sob ameaça, e que por isso era inválida. Juntou uma força de 6 mil homens e seguiu para o Castelo de Dumbarton, onde acreditava que estaria mais bem protegida. Mas Mary nunca chegou lá. Foi atacada por seus oponentes protestantes no caminho, e fugiu para a Inglaterra, na esperança de ser ajudada por Elizabeth I.

Quem conhece um pouco melhor da história sabe que este não foi um bom plano. Elizabeth a prendeu na Torre de Londres por 19 anos e depois mandou que a decapitassem.

As ruínas do Castelo, hoje propriedade da Historic Scotland, estão abertas para visitação entre os meses de abril e outubro. Um barco faz o transporte dos visitantes à ilha, que é hoje muito maior do que era na época de Mary – o lago foi drenado no século XVI. Além das ruínas do castelo, existe ali uma pequena trilha que passa por árvores muito antigas e algumas clareiras.

Barco que leva os turistas até a ilha do castelo.

Existem vários livros sobre esse ano terrível da vida de Mary, como prisioneira na ilha. Infelizmente, as retratações mais recentes, como o seriado Reign e o filme Mary Queen of Scots sequer mencionam o Castelo de Loch Leven.

Dizem que o fantasma de Mary ainda ronda pela ilha e pelos arredores do castelo. As ruínas teriam aprisionado em suas pedras toda a tristeza e o desespero que ela sentiu durante sua estadia ali. Ela é vista circulando, supostamente procurando por seus gêmeos, para que eles saibam que a morte deles não foi culpa dela.

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Confusões sobre pertencimento

  1. Rebeca Tisian

    obrigada por detalhar essa parte importante da história de Mary. Assisti ontem o filme Mary Queen os Scots e estou pesquisando mais sobre ela, valeu :)!
    Aliás acompanho seus posts, sou tbem uma apaixonada pela Escócia

  2. Adriana

    Ahhh, que história legal, Anelise!!
    Obrigada por compartilhar!

  3. Almir

    Chocante a historia dessa bela jovem , meus olhos se encheram de lagrimas emocionante .

  4. Nilva

    Gostei muito das explicações. Vi recentemente um filme sobre o assunto , agd pela aula

  5. Josiane Mendes

    Obrigada por compartilhar mais dessa história conosco! Adoro conhecer mais sobre a história da Escócia

  6. Amanda Freitas

    Não sabia dessa parte da história dela. Obrigada por contar.

  7. Carol

    Obrigada por compartilhar

  8. No se porque pero me dio la impresion de que la última foto seria de sepulturas

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