Dizem que, séculos atrás, uma rede de túneis foi descoberta na Royal Mile, conectando o Castelo de Edimburgo à Abadia de Holyrood. Na tentativa de mapeá-los, enviaram um jovem “piper” (tocador de gaita de foles) em uma missão: percorrer esses túneis tocando sua gaita, para que pudessem ir ouvindo e acompanhando, por cima, para marcar o trajeto.
Só que, lá pela metade do caminho de um deles, a música parou de repente. E o piper nunca mais foi encontrado, apesar de intensas buscas.
Dizem que, até hoje, o fantasma deste gaiteiro ainda caminha pela cidade velha e pelos arredores do castelo. Às vezes, sua música, como um lamento esvanecido, pode ser ouvida nas madrugadas frias.
Essa história é lembrada todos os anos, durante o The Royal Edinburgh Military Tattoo. No final do evento, tudo fica em silêncio, e um piper aparece no alto do castelo, sozinho, e toca uma música lamuriosa. O nome desse número é “The Lone Piper”, e a música seria em memória não só do jovem piper desaparecido mas também de todos aqueles que perderam suas vidas dentro e ao redor do castelo.
Lembrando disso, enquanto assistia o Military Tattoo e escutava essa música, pensei nas mais de 300 mulheres que foram queimadas ali, nessa mesma esplanada do castelo, acusadas de bruxaria. Pensei em como um local que foi palco de tantos horrores estava, hoje, presenciando tanta beleza. Humanos unidos ali, no passado, sendo cruéis. Humanos unidos ali, no presente, criando um espetáculo que comove milhares de pessoas todos os anos. Pensei no poder da música e na transmutação dessa esplanada. E desejei que todo esse encanto e alegria, coletivamente sentidos nessas noites, possam servir de homenagem a todas as almas que ali sofreram. ❤️
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