De carro pelas Highlands: um passeio e muitas reflexões

[Escrito em conjunto por: Silvia Bueno Garofallo e Nicola Chiarelli Garofallo]

Sempre gostei de viajar de carro.

Na minha infância, para sair de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, todas as viagens representavam longos passeios.

Para a minha natureza canceriana contemplativa, olhar pela janela do carro me trazia, e ainda me traz, momentos de paz. Começo a mentalmente comparar aquela experiência a todas situações da vida. Nas viagens, sempre vamos em frente. Vislumbramos lindas paisagens, o horizonte… onde, impreterivelmente chegaremos, passaremos e, depois, deixaremos para trás. E o deixar para trás não tira a beleza da viagem. Tudo passa. Inclusive o belo, inclusive o desejado. Sim…uma hora chegamos ao destino, mas muitas coisas ficaram para trás. Desapegamos. Não podemos segurar.

E assim eu fui, muito entusiasmada, pois sabia que teria meu momento de meditação rumo às Highlands, ponto turístico muito procurado na Escócia.

Obviamente não me decepcionei.

A Escócia e suas verdes campinas se desvelavam na minha frente.

Foto: Silvia Bueno Garofallo

Lindos pastos, cavalos cobertos com capas para proteger do frio, rebanhos de pacíficas e bucólicas ovelhas, os bois peludos e os sempre presentes castelos, marca registrada do País de Robert the Bruce.

Embora contemplasse o presente, também o cenário convidava a criar imaginários personagens medievais: cavaleiros nas mais diferentes roupagens e atividades varavam campos e montanhas, cruzando aqueles pastos, cavalgando seriamente e com bravura… fosse para caçar, encontrar o ferreiro da região, trocar mercadorias, negociar com o nobre do castelo vizinho. E nos dias frios e de chuva, suas capas de pele se sacudiam e se encharcavam tronando a breve jornada ainda mais dramática.

E fomos subindo.

Highlands à vista!!

Lindos montes surgindo no horizonte com suas formas arredondadas e cobertas com neve que mais parecia açúcar de confeiteiro.

Foto: Silvia Bueno Garofallo

Aos poucos a neve ia tomando mais volume e transformando a paisagem… do verde, tudo ficou branco… e a ansiedade tomou conta por querermos chegar logo à estação de esqui dos Cairngorns. Uma vista deslumbrante, lunar.

Tivemos muita sorte pois o céu estava azulzinho e o sol brilhante dava ainda mais luz ao cenário.

Foto: Silvia Bueno Garofallo

No topo da estação, mais um momento para filosofar.

Ao ver muita gente com seus esquis, snowboards, botas especiais e pesadas, casacos brilhantes e óculos enormes, pensei: para desfrutar de forma ousada uma linda natureza num lindo dia é preciso o equipamento certo. Não é assim na vida? Ousadia necessita de preparo e de “ferramentas” adequadas.

Já estávamos com a alma lavada e com os olhos repletos de tanta beleza quando chegamos no Loch Morlich.

Entretanto, fomos contemplados com mais uma paisagem de tirar o fôlego. Os picos nevados com o sol do entardecer contornando as águas muito calmas do lago me fizeram encher o peito de ar e agradecer.

Deus estava ali!

Foto: Silvia Bueno Garofallo

Minha filha certamente não teve pensamentos tão místicos pois estava muito excitada com os patos mandarins que nadavam perto das margens. Foi então que surgiu uma simpática senhora com um saco de pão. A alegria da minha pequena estava completa. Alimentando os patos mandarins. Agradeci gentilmente essa mulher idosa com seus cabelos brancos explicando que éramos de um país tropical e que estávamos deslumbrados com as Highlands. Perguntei se ela era moradora daquela região, já esperando a resposta de que ela morava do outro lado da estrada em um aconchegante chalé, onde a lareira já estava acesa e ela estava ali alimentando os patos como ela faz todo o fim de tarde. A resposta desta gentil escocesa me levou a última reflexão do dia: “Não, querida. Moro em Edinburgo. Estou aqui para esquiar!”

Foto: Silvia Bueno Garofallo

Sim… o tempo passa…nos desapegamos de muita coisa, deixamos muito para trás… mas a ousadia pode se aninhar em nosso espírito e nos acompanhar ao longo da nossa vida, e assim, enchê-la de entusiasmo até nossos cabelos perderem a cor e ficarem tão brancos como os picos nevados das Highlands.

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  1. Ellen

    Gratidão por nós contar esse lindo relato tão cheio de vida.

  2. Maria Claudia

    Que mágico
    Chorei de emoção

  3. Perfeito o conteudo, amei, vou passar a seguir mais de perto os artigos desse site!!! 🙂

  4. Fabiana

    Adorei seu artigo é muito lindo ganhou um seguidora! beijos

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