[Postado no facebook, mas repetido aqui para que não se perca o registro. 😊]
Todos os anos, no verão, acontecem vários pequenos festivais em vilarejos aqui na Escócia. Essas fotos mostram um pouquinho do de Bo’ness, onde os moradores participam bastante, decorando suas casas para a competição. O festival, chamado Bo’ness Children’s Fair Festival é a data do ano mais importante do calendário deste pequeno vilarejo, e muita gente passa o ano inteiro planejando e preparando sua decoração para o grande dia.
O carrossel e o relógio foram os ganhadores deste ano. Quem não consegue fazer uma decoração mais sofisticada, coloca bandeirinhas coloridas.
Em setembro passado, eu me tornei aluna da Universidade de Edimburgo, depois de ser aprovada na seleção para um doutorado em política e relações internacionais.
Fundada em 1582, a Universidade é quarta mais antiga da Escócia (perde para as de St Andrews, Glasgow, e Aberdeen) e a 6ª melhor da Europa. No Reino Unido, fica atrás somente das universidades de Oxford e Cambridge. Charles Darwin, David Hume, Peter Higgs, Arthur Conan Doyle, e Sir Walter Scott estudaram aqui, bem como 3 primeiros-ministros e 19 ganhadores do prêmio Nobel. Da Universidade de Edimburgo saíram descobertas e invenções como as da anestesia, do telefone, do dióxido de carbono, da fertilização in-vitro, e das vacinas do HPV e da Hepatite B.
A Universidade possui até um tartan próprio!
Então imaginem eu, um humilde fruto de Araranguá, sentada em um salão vitoriano enorme, em uma construção do século XVIII, no primeiro dia de orientações e pensando, incrédula, “O que é que eu estou fazendo aqui?” Eu nem tinha grandes esperanças de passar, fiz a seleção como um treino. Pensei que aplicaria todos os anos, pra ir treinando e aprimorando a proposta de pesquisa e que, daqui a uns 5 anos, talvez eu tivesse chance de passar. Mas foi assim, de primeira. Muita sorte. Eu olhava em volta, olhava pra todos os outros, com caras de altamente inteligentes e qualificados e pensava: “Nossa, eu devo enganar muito bem mesmo….”. E fiquei bem quieta pra ninguém descobrir que eu era uma farsa…
Quando nos mudamos para o vilarejo onde moramos agora, o Pedro tinha 3 anos. Ele dizia para as professoras e coleguinhas que era de “Edimbra” (Edinburgh, pronunciado como um local). Justo, havíamos mesmo vindo de lá, onde moramos por um tempo. E, embora eu explicasse, ele não tinha muita noção do que era o Brasil.
Aos 4 anos de idade, ele veio me contar sobre um coleguinha novo:
“O Santiago nos contou que o pai dele é do Chile! Isso não é incrível?!!”, me disse, empolgado.
“Mas, Pedro, e nós somos do Brasil, que é do lado do Chile, isso não é legal também? Você pode contar isso pra eles, que você é do Brasil”.
No supermercado de uma cidade vizinha, aqui na Escócia, um sujeito passou correndo e quase tropeçou no nosso carrinho de compras. Ficou atrapalhado com isso, desviou, e parou em seguida, olhando para o segurança que estava logo à frente, se movendo na nossa direção.
“Você não está autorizado a me revistar!”, o sujeito gritou pra ele. O segurança não respondeu e abriu os braços, pra impedir a passagem dele. O sujeito correu para o outro lado, tentando desviar, mas foi detido por outros dois homens. O segurança, tentando ser discreto, prendeu as mãos dele com algo e levou-o para o outro lado do supermercado.
Eu cresci no Brasil, acostumada a ver as pessoas reclamando da corrupção, da bagunça, de como nada funciona. Acostumada, como a maioria, com o “jeitinho”, com a malandragem, com o “rouba mas faz”, com o “achado não é roubado”. “O mundo é dos espertos”, e os honestos, por consequência, são os trouxas que nunca que são bem.
Felizmente, como muitos de nós, fui educada para fazer diferente. Minha mãe costuma dizer que não existe meia honestidade; ou se é inteiramente honesto, inclusive nas pequenas coisas, ou não se é. Fui ensinada a devolver o troco errado, a tentar encontrar o dono da carteira perdida, e a pagar cada centavo que devo. Mas também fui ensinada a “não dar bobeira” e a “ficar esperta”, pra não “cair no conto do vigário”.