Hoje, 25 de janeiro, se celebra a vida e a obra de Robert Burns, o “Bardo de Ayrshire”.
Eu já contei neste post aqui como é essa celebração – leiam para saber se portar caso sejam convidados repentinamente para uma Burns Night!! – mas eu ainda não contei, afinal, quem é esse sujeito e o que ele fez para merecer tanto haggis e tanto whisky.
Rabbie (como ele é também carinhosamente chamado) nasceu em 25 de janeiro de 1759 em Alloway, Ayrshire, sul da Escócia. De origem simples, Burns passou a infância e adolescência trabalhando na pequena fazenda da família, com pouca educação formal mas lendo bastante – ele gostava de Shakespeare e Milton – e absorvendo os contos e canções tradicionais folclóricas do ambiente rural em que vivia.
Começou a escrever poemas e canções aos 15 anos de idade, para impressionar garotas (acho que todos começam assim!!). Os poemas eram escritos tanto em inglês quanto em dialeto escocês, que era então comumente falado na região. Burns escrevia principalmente sobre natureza e amor (aquela coisa toda sobre o olhar da sua amada sob a luz do luar e etc) mas também sobre coisas simples e cotidianas, como ratos e piolhos (oh, sim! Pra vocês verem como uma mente inspirada transforma tudo em arte).
Mas apesar dos poemas inspirados e das garotas, a vida não nunca foi fácil para esse charmoso Don Juan das Lowlands. Quando seu pai morreu, ele e os irmãos se viram em uma situação difícil, com a fazenda produzindo menos do que precisavam. Sem dinheiro e sem muitas opções, Burns chegou a aceitar um emprego na Jamaica, como supervisor de uma fazenda de açúcar que pertencia a um escocês conhecido.
Mas, em uma última jogada, implorou a um editor local que publicasse seus poemas.
O livro “Poems, Chiefly in the Scottish Dialect” (“Poemas, principalmente em dialeto escocês”) fez um sucesso tão imediato que, a semanas de partir, Burns cancelou sua ida à Jamaica e resolveu ir para Edimburgo, viver sua fama repentina. Por um tempo, o plano deu certo, e ele aproveitou bem todos os contatos e amores que a cidade lhe proporcionou (e tudo virando poema, claro) mas quando o dinheiro acabou, Burns voltou para o campo e se casou com uma namorada antiga, Jean Armour.
Batalhando a vida em empregos diferentes, Rabbie continuou escrevendo seus poemas e canções em seu tempo livre (queria que ele me contasse onde achava tempo).
Mas sua saúde frágil, atribuída a um problema de coração, não lhe deu muito tempo de vida, e Burns morreu aos 37 anos, tão cheio de poemas quanto de dívidas. Uma edição comemorativa de seus poemas foi publicada para conseguir dinheiro para sua esposa e filhos.
Em sua época, a fama de Robert Burns foi efêmera e não lhe trouxe grandes riquezas. Mas o seu legado, de centenas de poemas e canções, foi sendo cada vez mais valorizado e ele é hoje reconhecido como um pioneiro do movimento romântico.
Acho que ele jamais poderia imaginar que o dia do seu aniversário seria lembrado e comemorado em toda a Escócia. A Burns Night, que acontece todo dia 25 de janeiro, se tornou uma data nacional importante, em que se celebra a obra do poeta com um toque de orgulho patriótico, muito haggis e muito whisky (de novo, leia aqui para entender bem como é!).
A primeira Burns Night foi organizada por nove amigos dele, e a tradição continuou e segue firme, já por mais de 250 anos!
Pouca gente, no Brasil, já ouviu falar deste poeta escocês, ou conhece seus poemas. Mas todo mundo já escutou sua canção mais famosa, tradicionalmente tocada na última noite do ano em vários países do mundo: “Auld Lang Syne” – conhecida, em português, como “Valsa da Despedida”.
A letra original é em escocês, e a tradução em português ficaria mais ou menos assim:
Deveria um velho conhecido ser esquecido, e nunca lembrado? Deveria um velho conhecido ser esquecido, e os bons velhos tempos? Refrão: Pelos bons velhos tempos, minha querida, pelos bons velhos tempos, ainda vamos tomar um copo de gentileza, pelos bons velhos tempos. E com certeza você vai comprar seu copo de cerveja! E com certeza vou comprar o meu! E ainda vamos tomar um copo de gentileza, pelos bons velhos tempos. Nós dois corremos pelas colinas, e colhemos lindas margaridas; Mas nós vagamos bastante, desde os velhos bons tempos. Nós dois remamos no rio da manhã até a noite, Mas os mares entre nós bramaram desde os bons velhos tempos. E aí está uma mão, meu amigo de confiança! E me dê uma mão sua! E vamos fazer um esboço de boa vontade pelos bons velhos tempos. (Tradução minha)
Esta música é a terceira mais popular da língua inglesa, atrás apenas de “Happy Birthday” e “For he’s a jolly good fellow’.
Um dos poemas mais famosos de Burns, que também virou música, é “My love is like a red, red rose”:
Ó, meu amor é como uma rosa vermelha, vermelha, que acabou de florescer em junho. Ó, meu amor é como a melodia, que é tocada docemente em sintonia. Tão boa é você, minha linda moça, Tão apaixonado estou, E eu ainda vou te amar, minha querida, Até que todos os mares sequem. Até que todos os mares sequem, minha querida. E as rochas derretam com o sol! E eu ainda vou te amar, minha querida, Enquanto as areias da vida correrem. E passe bem, meu único amor, E passe bem por um tempo! E eu voltarei, meu amor, Ainda que percorra dez mil milhas! (Tradução minha)
Na verdade, quase todos os poemas e músicas de Burns são famosos por aqui, mas o principal desta noite, o que não pode faltar em nenhuma Burns Night, e deve ser recitado em dialeto escocês, é o “Address to a Haggis”.
Achei um vídeo com um Rabbie “de verdade” recitando, pra vocês escutarem também um pouco desse dialeto. Deleitem-se:
Feliz Burns Night para todos que estão na Escócia ou que gostariam de estar!
Slàinte mhath!
Esther
Muito bom!! Uma leitura divertida e que nos leva pra dentro da cultura escocesa! Estou amando conhecer melhor da escócia pelos seus relatos !!
Anelise
Obrigada!!!
Aparecida
Estou adorando conhecer mais da Escócia por seus posts ! Muito interessantes!
Andrea Henning
Tenho uma atração pela Escócia, pelos livros que leio e que descrevem as paisagens, os castelos, os clãs, a cultura e o dialeto. Acompanhando você descobri tantos detalhes a mais, história que me encantam tanto. Não sei se um dia terei a alegria de ver de perto esse lindo lugar mas quero te agradecer muito por me proporcionar a alegria de ver e ler tanto pelas suas histórias. Obrigada
Anelise
Oi Andrea, obrigada!!! Que coisa boa ler esse comentário!! Fico feliz por conseguir trazer um pouco da Escócia pra perto de você,
Bruno Veiga
Oi!
Esse texto veio em boa hora!
Acabei de comprar na livraria onde trabalho o COLLECTED POEMS OF ROBERT BURNS da WORDSWORTH POETRY LIBRARY. Como amo poesia bucólica, ele já me fisgou e fiquei muito feliz de descobrir que 25 de Janeiro, pra mim um dia sacratíssimo devido ao aniversário da cidade de São Paulo, é também o dia de comemorá-lo. Tudo só ficou ainda mais especial!
Sandra Pereira
Sabe dizer em qual livro está a frase : Quem dera que por algum poder, o dom nos fosse dado de olharmos para nós mesmos assim como somos olhados, de quantos erros nós seríamos poupados.
?????
Robert Burns.