Em 2004, quando Boris Johnson era editor da revista Spectator, ele publicou um poema que se referia aos escoceses como “uma raça de vermes” que merecia “exterminação total”. Era o tipo de texto que se pretendia satírico mas beirava, explicitamente, uma discriminação genocida. Nenhum escocês achou graça. Assim como também não acharam graça quando ele se tornou, recentemente, primeiro-ministro do Reino Unido.
Pra piorar, o mandato de Johnson aumenta, em muito, as chances de uma saída da União Europeia sem acordo – o tal do no deal – coisa que a maioria dos escoceses não deseja. Logo após sua vitória, Boris veio até a Escócia se reunir com a primeira-ministra daqui, Nicola Sturgeon, como é de praxe. Foi vaiado pelo público e teve que sair pela porta de trás depois da visita.
Durante o encontro, ele não fez questão de agradar, e disse que acha que os escoceses não têm o direito de escolher serem independentes ou não, entre outras coisas que não caíram muito bem por aqui.
Como resultado, o ímpeto independentista ganhou força, resultando em uma pesquisa de opinião, divulgada no início deste mês, que já aponta para uma possível vitória do YES em um referendo de independência.
Fala-se agora em um possível referendo em 2021, para perguntar aos escoceses se querem ou não se separar do Reino Unido (que ultimamente anda muito desunido, aliás). Até lá, o movimento do YES vai fazer o possível para convencer o maior número de pessoas que a independência é não só viável como também a melhor opção para a Escócia.
Os argumentos deles são bastante convincentes. Segue uma pequena amostra de alguns dos folders que circulam por aqui:
Claro que algumas coisas ainda não estão bem claras: como ficaria a fronteira com a Inglaterra? Ninguém gosta da ideia de uma hard border, com controles pra tudo. E será mesmo que a Escócia conseguiria entrar para a União Europeia, como país independente, apesar da oposição de países como a Espanha?
Mas o principal argumento dos que são contra a independência é que isso causaria muita instabilidade política e econômica. E eles têm razão, causaria mesmo, e por um bom tempo. Só que as pessoas já estão vivendo essa instabilidade em função do Brexit. A libra, esta semana, chegou quase ao mesmo valor que o euro. A economia vai mal, a política vai pior, e o futuro, sob Johnson, não parece muito promissor. É neste cenário que muita gente aposta que, desta vez, os escoceses vão votar pela independência. Aguardemos cenas dos próximos capítulos…
Pra quem ficou curioso com o poema, escrito por James Michie, mas publicado por Johnson sobre os escoceses, segue abaixo, com tradução:
Os escoceses – que raça de vermes! Espertinhos, agressivos, indispostos, eles estão em todo lugar, Nos sacudindo com falsa bonomia, Poluindo nossas ações, minando nossa economia. Para baixo com cabelos arenosos e joelhos nodosos! Suprimam os anões do tartan e os Wee Frees! (n.t.: um grupo escocês religioso); Proíbam o kilt, o skean-dhu e o sporran (n.t.: a “saia”, a adaga que vai na meia e a bolsa, típicos da vestimenta escocesa) como provocativamente, e ofensivamente estrangeiros! É hora de a Muralha de Adriano ser reforçada, Para prendê-los em um gueto do outro lado. Eu iria mais longe. A nação não merece apenas isolamento; Mas sim um extermínio abrangente. Não devemos nos esquivar de uma solução. (Aguardo ser processado)
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