Você já deve ter ouvido falar que cada clã tem seu próprio tartan. Ou, se já veio a Escócia, viu essa associação nas lojas, onde tartans são associados a sobrenomes diferentes. E isso faz parecer que essa relação é super tradicional e histórica. Mas a verdade é que essa história bonitinha e interessante é bem mais moderna do que parece. 

A ideia de que cada clã escocês sempre teve seu próprio tartan exclusivo é, na verdade, um mito em grande parte construído na era vitoriana, com motivações tanto românticas quanto comerciais.

O que é verdade:

Tartans sempre existiram, mas originalmente eles eram padrões regionais, ligados à área geográfica e aos recursos locais (plantas usadas para tingir, por exemplo) — não ao sobrenome ou clã. 

Os padrões eram sem nome e não exclusivos — várias pessoas de uma mesma região podiam usar o mesmo padrão, mesmo pertencendo a diferentes grupos.

Onde entra o mito:

No século XIX, especialmente após a visita do rei George IV à Escócia em 1822, orquestrada por Sir Walter Scott, houve um grande esforço de “reinvenção” da identidade escocesa – esse era o período do romantismo, onde em toda parte as identidades locais eram reforçadas e reinventadas historicamente.

Nessa época, tartans foram “atribuídos” retroativamente aos clãs, muitas vezes de maneira arbitrária, por livreiros, tecelões e autores de catálogos. Foi também quando surgiram os “tartans reais”, “tartans militares”, “tartans de dress” etc. Vários tartans de “clãs”, inclusive, foram inteiramente inventados nessa época.

A indústria têxtil escocesa, especialmente na região de Stirling e nas Lowlands, aproveitou essa onda para vender tartans padronizados como herança ancestral — e funcionou tão bem que a história faz sucesso até hoje, com montes de turistas que vêm à Escócia e compram vários produtos com os tartans dos “seus clãs”.(aproveitando para desfazer outro mito: “clãs” não existem mais. Apenas como associações culturais)

Ou seja, a associação entre um clã e um tartan específico como algo historicamente correto é uma invenção vitoriana. Mas acabou se enraizando na cultura escocesa moderna e, principalmente, como parte do imaginário turístico e romântico.